sábado, 19 de novembro de 2011

O Pré-tribulacionismo versus a Cronologia Bíblica.


arrebatamento
No último artigo, falamos a respeito da origem do pré-tribulacionismo. Por mais de 1800 anos, nunca ninguém havia dividido a vinda do Senhor Jesus em duas partes: uma secreta e outra pública. Começaremos agora a estudar a cronologia escatológica aprensentada pela Bíblia, para então constatarmos se, no relato bíblico, eventos como uma vinda secreta de Cristo e um arrebatamento pré-tribulacionista se encaixam na narrativa apresentada pelos apóstolos.

A Escatologia de Jesus Cristo

A primeira Escritura que analisaremos é Mateus 24:15-33, que relata os eventos escatológicos narrados na ordem que o Senhor Jesus nos descreve. Leia o texto e acompanhe a sequencia:
1) Aparece o Anticristo (Mateus 24:15)                         
2) Advertências contra o engano (falsos cristos) e para a fuga durante o período de uma “grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais” (vv. 16-27).
3) Após a tribulação, “o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados” (v. 29)
4) Nosso Senhor aparece em glória, diante de todos (v. 30).5) E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus.
A narrativa escatológica acima não menciona nenhuma volta secreta do Senhor Jesus. Muito pelo contrário, fala de somente uma única vinda, e esta será visível a todos. Vemos também que os santos são recolhidos após o aparecimento do Anticristo e após o período da Grande Tribulação.
Até o momento, somente encontramos menção a uma única vinda de Cristo e um único arrebatamento, ambos ocorrendo após a tribulação.

A Escatologia dos Apóstolos Paulo e João

… num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. (1 Coríntios 15:52-53 – grifos acrescentados)
Paulo nos ensina que antes do arrebatamento e glorificação de nossos corpos, os mortos em Cristo devem ressuscitar primeiro. Ele confirma esta sequencia no verso abaixo:
Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem. Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor. (1 Ts 4:15-17 – grifos acrescentados)
Acompanhemos a sequencia dos eventos descritos acima;
1) Brada o arcanjo, a trombeta é tocada;
2) Cristo desce dos céus;
3) Os mortos em Cristo são ressucitados;
4) Os discípulos que estiverem vivos são arrebatados para o encontro com o Senhor nos ares.
De acordo com a passagem acima, Cristo volta de maneira nada discreta: com grande brado e ao som da trompeta. É um evento que será visto por todos. Mais uma vez, nada se fala a respeito de uma vinda secreta. Em segundo lugar, de acordo com Paulo, antes que o arrebatamento ocorra, os santos que já  morreram em Cristo precisam ressucitar primeiro. Este evento, por si só, já situa o arrebatamento após o término da Grande Tribulação, como João nos esclarece:
E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos. (Ap 20:4-6 – grifos acrescentados)
A sequencia de João é clara:
1) Os santos passam pela tribulação (não há nenhuma menção prévia a este capítulo de um arrebatamento anterior ao eventos registrados no v. 4)
2) Estes santos que passarão pela tribulação ressucitarão após a mesma, para reinar com Cristo mil anos. Os demais, que não estão em Cristo, ressucitarão após o Milênio.
3) A ressurreição dos santos em Cristo após a tribulação é chamada de a primeira ressurreição.
De acordo com João, haverá somente duas ressurreições: a dos justos, (antes do Milênio e depois da Tribulação) e a dos ímpios (após o Milênio). Se Paulo nos ensina que o arrebatamento ocorrerá somente após a ressurreição dos justos, e a primeira ressurreição ocorrerá somente após a Grande Tribulação, então obrigatoriamente o arrebatamento dos santos necessita ocorrer após a Grande Tribulação.
Não há nas Escrituras nenhuma menção a duas vindas do Senhor (uma secreta e uma pública) e a um arrebatamento que preceda a tribulação. Ambas as coisas aparecem na Bíblia como um evento único, após a Tribulação. Na sustentação de seu postulado, o dispensacionalismo contradiz a cronologia escatológica claramente exposta no texto bíblico. O pré-tribulacionismo implica em um arrebatamento anterior à primeira ressurreição descrita em Ap. 16 (que se dá após a tribulação), o que contraria a premissa de Paulo de que “de modo algum precederemos os que dormem”.
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Como vimos nesta série de estudos, a cronologia escatológica bíblica desfavorece totalmente a visão de um arrebatamento anterior à Grande Tribulação. Tampouco encontramos nas Escrituras alguma referência a uma vinda secreta de Cristo para arrebatar os seus antes da tribulação. Não há absolutamente nada na Bíblia que faça menção a um evento separado e distinto daquele que as Escrituras chamam de o Dia do Senhor, que será marcado por brados e trombetas, visível a todos os habitantes do planeta e que, portanto, de secreto não terá nada.
Uma das colunas de sustentação do pré-tribulacionismo é o fator surpresa. Certas passagens dizem que o Senhor virá como um ladrão na noite (Mat. 24:44, Lucas 12:40, 2 Ped. 3:10, Ap. 3:3, Ap. 16:15). Então, de acordo com os pré-tribulacionistas, Jesus necessita voltar a qualquer momento para que isso se cumpra. Ainda de acordo com essa lógica, se Cristo voltar após a Grande Tribulação, sua volta poderá ser calculada e o fator supresa “do ladrão na noite” se anula. Veremos.
A vinda do Senhor será uma surpresa para o mundo? Claro que sim. E para a Igreja? Não deveria ser. Em primeiro lugar, veremos que o Senhor Jesus anuncia que viria como um ladrão na noite após o aparecimento do Anticristo, às vésperas dos eventos que marcam o Armagedom:
Porque são espíritos de demônios, que fazem prodígios; os quais vão ao encontro dos reis da terra e de todo o mundo, para os congregar para a batalha, naquele grande dia do Deus Todo-Poderoso. Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia, e guarda as suas roupas, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas. E os congregaram no lugar que em hebreu se chama Armagedom (Ap 16:14-16)
De acordo com a Escritura acima, o Senhor virá como um ladrão quando os reinos deste mundo estiverem congregados para a batalha no Armagedom. Isso automaticamente situa a volta do Senhor no final da Grande Tribulação. Para os santos de Deus isso não será nenhuma surpresa. Aqueles que não caírem pela espada, estarão assistindo estes eventos pela Globo ou pela CNN de joelhos, esperando pela redenção de seus corpos, que se dará após a ressurreição dos mortos em Cristo.
Além disso, Paulo também nos esclarece:
… o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa; porquanto vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas. Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios. (1 Ts 5:1-5)
Portanto, a advertência de Paulo é no sentido de que vigiemos e sejamos sóbrios para que o Dia do Senhor não nos apanhe de surpresa. O Dia do Senhor virá como um ladrão para o mundo e para os religiosos que não estiverem preparados para sua volta. Mal 4:5 diz que este Dia será grande e terrível. Para a Igreja? Não, para o mundo. Do mesmo modo, o Dia do Senhor será uma surpresa para o mundo, mas não para a Igreja. O próprio Mestre nos ensina que o Dia do Senhor será como o dilúvio nos dias de Noé (Mat 24:37-39). O mundo no tempo de Noé foi pego de surpresa diante do dilúvio, mas Noé e sua família sabiam o que ia acontecer, e estavam preparados.
A primeira vinda do Senhor Jesus foi precedida por sinais e por profecia. Mas apesar de o evento não ter sido um segredo, a maior parte da nação estava adormecida espiritualmente e não percebeu o que estava acontecendo, somente Simeão e um grupo de pastores no campo (Lucas 2:8-18; 25-35). Por isso, o Senhor Jesus criticou sua geração por não reconhecer os tempos em que viviam (Mat 16:3). Em outras palavras, na primeira vinda do Senhor, havia profecia e sinais aos quais Deus esperava que seu povo estivesse atento. Do mesmo modo, o Senhor nos ensina que sua segunda vinda será precedida por sinais, e nos instruiu a observá-los:
Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. (Mateus 24:32)
Antes da volta do Senhor, o mundo geopolítico terá que obrigatoriamente passar por mudanças. Do mesmo modo, a nação de Israel e a Igreja mudarão rumo à restauração de todas as coisas (Atos 3:21). Essas mudanças indicarão (e já indicam) que o Dia do Senhor se aproxima. Será como a chuva: ninguém sabe dizer a hora exata em que cairá sobre a terra, mas as nuvens e os ventos são claros indicadores de que uma tempestade se forma.
Malaquias 4:5 é uma profecia de duplo cumprimento. O Senhor faz referência a esta passagem para ensinar-nos que Elias (na pessoa de João Batista) já veio uma vez, e que viria novamente no futuro para restaurar todas as coisas (Mat. 17:10-11). Portanto, assim como João Batista anunciou a primeira vinda - no espírito e no poder de Elias (Luc. 1:17) –  uma companhia profética será levantada, no espírito e no poder de Elias, antes do Grande e Terrível Dia (Mal 4:5), para preparar os caminhos do Senhor e alertar a Igreja, Israel e o mundo a respeito de sua volta. Resta-nos apenas saber quem ouvirá e crerá em sua mensagem.
Este é o padrão de Deus ao longo de toda a narrativa bíblica. O Senhor nada faz em segredo. Diz a Escritura que Deus não fará coisa alguma sem antes revelar seu propósito aos seus servos, os profetas (Amós 3:7). Igualmente, também é um padrão bíblico que a mensagem profética seja aceita entre muitos pecadores, mas ignorada e até mesmo ridicularizada pelos religiosos. O espírito da profecia é o testemunho de Cristo (Ap. 19:10). Uma Igreja profética no final dos tempos não será pega de surpresa pelo “ladrão”. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo dos ímpios e dos religiosos que não estiverem atentos aos sinais que precederão sua vinda.

Conclusão

O dogma do “segredo total” da vinda de Cristo é um mito e não representa o padrão daquilo que Deus fez no tempo e na história. Ao mesmo tempo em que Jesus disse aos seus discípulos que somente o Pai sabia do dia de sua volta (Mat. 24:36), também disse que quando este momento chegasse haveria sinais que precederiam sua vinda. Portanto, até que estes sinais comecem a se cumprir, ninguém de fato saberá. Mas uma vez que estes sinais comecem a se cumprir, então deveremos estar atentos.
O maior desafio da Igreja, na era da comunicação, não será identificar estes sinais, porque estarão diante de nossos olhos. O problema maior será crer que estes sinais se tratam daqueles que de antemão foram profetizados pelas Escrituras. Nosso maior inimigo no final dos tempos não será a ignorância e sim a incredulidade.
Que Deus nos ajude. Maranata.
As Escrituras nos dizem que o Senhor guardará a Igreja da provação e da ira vindoura. Diz também que não fomos destinados para a ira, e faz alusão a um agente que detém o Anticristo até que chegue o momento de sua manifestação. Analisaremos estes versos em contraste com a cronologia escatológica que as Escrituras nos ensinam.
Começarei pelos escritos de Paulo:
… e para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura. (1 Ts 1:10)
… porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5:9)
Como vimos em O Pré-tribulacionismo versus A Cronologia Bíblica, a Bíblia nos fala de um único Dia do Senhor pelo qual devemos esperar (não dois: um secreto e um público). Também nos ensina que este Dia do Senhor ocorre depois do aparecimento do abominável (2Ts 2:1-4, Ap 16:14-16). Mostra-nos uma única ressurreição dos justos após a tribulação (Ap 20:4-6). Consequentemente, mostra-nos um único arrebatamento, após a tribulação. Somente podemos concluir que a “ira” a que Paulo se refere certamente não é a Grande Tribulação, e sim a punição dos ímpios ou o Juízo Final. Esta foi a interpretação da Igreja por 1830 anos.
O dispensacionalismo pré-tribulacionista cria uma interessante relação entre o Anticristo e o Espírito Santo, como veremos abaixo:
Com efeito, o mistério da iniquidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém (2 Ts 2:7)
Baseados neste versículo, o pré-tribulacionismo afirma que o Espírito Santo está impedindo a aparição do Anticristo. Por lógica, sendo a Igreja arrebatada, o Espírito Santo se retirará da terra, abrindo o caminho ao iníquo que agora poderá devorar a terra, visto que os santos já foram retirados para serem preservados de seu furor.
O problema óbvio com esta doutrina é que haverá convertidos na terra durante o período de tribulação (Ap7 :9-14, Ap 13:7, Ap 14:12-13, Ap 20:4). Portanto, o Espírito Santo estará na terra – a não ser que algum teólogo pré-tribulacionista queira se aventurar em um debate de como as pessoas se converterão neste período sem serem convencidas de seu pecado pelo Espírito Santo, e como serão crentes genuínos, fieis até a morte, sem serem batizados com o Espírito Santo.
Além de violar a cronologia bíblica anteriormente discutida, o pré-tribulacionismo comete uma atrocidade ainda mais grave: nega aos santos da tribulação o status de Igreja. Os teólogos pré-tribulacionistas determinaram que tais pessoas, apesar de seu belo testemunho, são somente um “simulacro” de Igreja, mas não são o Corpo de Cristo. Não há nenhuma base escriturística para tamanha arbitrariedade. Enquanto houver convertidos sobre a face da terra, a Igreja estará presente e, consequentemente, o Espírito Santo de Deus.
Em nenhum momento Paulo diz quem é o agente que impede a manifestação total do Anticristo na terra. Um anjo poderia estar acorrentando este demônio, para liberá-lo na hora certa. O agente pode ser também um sistema de governo, ou até mesmo uma poderosa nação que  ofereça resistência à formação de uma Nova Ordem Mundial (nos dias atuais, esta nação seria os EUA). Não há respaldo bíblico que sustente a lógica de que “a Igreja se retira da terra com o Espírito Santo e deixa o caminho livre para o Anticristo”. Toda esta retórica surgiu de uma mera conjectura que com o tempo tomou força de doutrina.
Um outro verso comumente usado pelos pré-tribulacionistas é:
Porquanto guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr ã prova os que habitam sobre a terra. (Ap. 3:10)
Em primeiro lugar, temos que lembrar que esta palavra foi originalmente dita à Igreja em Filadélfia. A promessa era a de que o Senhor a guardaria da provação que viria sobre o mundo. A Igreja em Filadélfia não foi arrebatada. “Guardar da provação” aqui indica proteção sobrenatural durante a tribulação e não um arrebatamento. Do mesmo modo será com parte da Igreja no final dos tempos.