Uma Análise de 1 Coríntios 5
O Contexto de Corinto
A igreja de Corinto era uma igreja que havia sido muito abençoada por
Deus em diversos aspectos. Quando Paulo inicia esta carta ele
reconhece, no capítulo primeiro, que Deus havia abençoado a igreja com
toda sorte de bênçãos espirituais, de dons espirituais, ao ponto de “não
lhes faltar dom nenhum”. Corinto era uma igreja carismática no sentido
bíblico da palavra, ou seja, tinha os “carismas” do Espírito de Deus, os
dons, através dos quais desenvolvia seu serviço prestando culto a Deus e
cumprindo a sua missão neste mundo. Infelizmente, por motivos que
desconhecemos, esta igreja de Corinto, que havia sido fundada pelo
apóstolo Paulo, com menos de três anos de fundada começou a desviar-se
dos padrões de conduta e de doutrina que o apóstolo havia estabelecido
por ocasião de sua fundação.
Os Problemas de Corinto
1) Divisões
Paulo estava no seu último ano de ministério na cidade de Éfeso, quando recebe informações de que a igreja de Corinto não estava indo muito bem. As informações eram muitas e poucas delas eram boas. Paulo soube que havia divisões na igreja, que estava dividida em 4 grupos. Grupos que se formaram em torno de personalidades, de pessoas que tinham tido uma participação no passado recente da igreja, com o próprio Paulo e Apolo (cap. 3:4). Havia até um grupo que talvez fosse o mais perigoso deles que era o “grupo de Cristo” (‘…e eu, de Cristo” Cap 1:12). Eles diziam que não eram seguidores de homem algum e sim de Cristo. Era como se dissessem: não queremos estar debaixo da orientação ou da instrução e autoridade de qualquer homem porque recebemos tudo diretamente de Cristo. Alguns estudiosos têm identificado este grupo como o “grupinho dos espirituais” que falavam em línguas e se gloriavam por terem experiências extraordinárias; que não aceitavam a autoridade de Paulo na igreja e outras coisas mais.
1) Divisões
Paulo estava no seu último ano de ministério na cidade de Éfeso, quando recebe informações de que a igreja de Corinto não estava indo muito bem. As informações eram muitas e poucas delas eram boas. Paulo soube que havia divisões na igreja, que estava dividida em 4 grupos. Grupos que se formaram em torno de personalidades, de pessoas que tinham tido uma participação no passado recente da igreja, com o próprio Paulo e Apolo (cap. 3:4). Havia até um grupo que talvez fosse o mais perigoso deles que era o “grupo de Cristo” (‘…e eu, de Cristo” Cap 1:12). Eles diziam que não eram seguidores de homem algum e sim de Cristo. Era como se dissessem: não queremos estar debaixo da orientação ou da instrução e autoridade de qualquer homem porque recebemos tudo diretamente de Cristo. Alguns estudiosos têm identificado este grupo como o “grupinho dos espirituais” que falavam em línguas e se gloriavam por terem experiências extraordinárias; que não aceitavam a autoridade de Paulo na igreja e outras coisas mais.
2) Problemas doutrinários
A igreja tinha todas estas divisões e além disso tinha problemas de
ordem doutrinária. Um grupo não aceitava a ressurreição dos mortos (cap.
15). Havia um espírito faccioso naquela igreja; existiam problemas com
respeito à doutrina da liberdade cristã ( 10:28). “Será que posso comer
carne sacrificada aos ídolos”? Os “fortes” diziam que sim e subestimavam
os “fracos”. Havia problemas com respeito às questões do casamento
(cap. 7): O que é mais espiritual? Casar ou ficar solteiro?
A igreja estava dividida por uma série de problemas que se refletiam
no culto. Os “espirituais” falavam línguas sem interpretação para a
igreja e desta forma não edificavam (14:5); os profetas falavam, mas não
havia ordem de quem deveria falar primeiro (14:29, 32); as mulheres
entusiasmadas estavam querendo tirar qualquer sinal de que há uma
diferença entre homem e mulher dentro da ordem da criação de Deus
(11:8-9); na hora da Santa Ceia havia pessoas que até se embriagavam
(11:21) e participavam do sacramento sem ter o espírito apropriado.
Corinto era uma igreja com graves complicações. Mas, mesmo considerando
isso, era uma igreja que se gloriava de ser “espiritual”. Afinal,
muitos, na concepção deles, não tinham os dons que indicavam a presença
do Espírito Santo? Muitos não estavam falando em línguas durante o culto
(Cap. 14)? Outros não estavam profetizando e trazendo palavra de
revelação? A igreja pensava que era espiritual e considerava-se assim
apesar de estar toda minada de problemas.
3) Problemas Morais
Entre os problemas mencionados havia também problemas morais. Havia um
irmão que estava processando outro num tribunal secular (6.4). Talvez a
igreja não tenha se interessado o suficiente. A verdade é que não
chegaram a um acordo e talvez por questão de terra ou talvez de dinheiro
e negócios, este irmão estava em litígio com outro. Por isso estava
processando-o no tribunal da cidade. Com esta atitude estava expondo o
Evangelho à vergonha diante dos ímpios (v. 6).
Havia um grupo que estava voltando à prática da prostituição
religiosa (6:18-19), o que era comum na cidade de Corinto. Isso era
praticado nos templos onde se cultuava a deusa Afrodite.
Refletindo esta separação entre espiritualidade e a conduta moral
surge um problema relatado no capítulo 5 e que estava bem de acordo com a
natureza e espírito da igreja. Havia um homem, membro da igreja, que
estava vivendo com sua madrasta. Seu pai provavelmente ainda estava
vivo, mesmo assim estava tendo “um caso” a mulher de seu pai. O mais
grave é que isto era do conhecimento não só da igreja mas também da
própria sociedade de Corinto. Era algo notório e se comentava; circulava
rumores verdadeiros com respeito a este incidente. Nos traz
constrangimento o fato de que a igreja de Corinto, como um todo, parecia
não ver nada de grave nisso: “Afinal Deus não está em nosso meio? Vejam
o que acontece nos nossos cultos”! E este homem continuava a viver com
sua madrasta às vistas de toda a igreja! Mas o que mais incomodava o
apóstolo Paulo era a falta de uma atitude firme por parte da igreja com
relação àquela pessoa. Ou seja, a igreja deveria constatar que conduta
moral e espiritualidade são duas coisas que andam juntas. Temos de ter
as duas coisas; e quando temos uma e não a outra, ou a espiritualidade é
falsa ou a moralidade é falsa. Mas a genuína espiritualidade exige uma
conduta de acordo com as verdades do evangelho.
O interessante é que Paulo não se dirige à liderança da igreja.
Paulo, ao escrever, não se refere aos líderes mas fala à igreja como um
todo. Porque, mesmo que no sistema presbiteriano, estes casos tenham a
ver inicialmente com o Conselho, o fato é que na base do problema, além
de um caso notório, pecado é um problema de toda igreja. É uma questão
que afeta todos os membros e que não é somente responsabilidade do
Conselho olhar para a vida dos outros membros e tomar algum tipo de
decisão, mas que é responsabilidade de cada membro do corpo de Cristo
zelar para que haja pureza, santidade, que haja no convívio da
comunidade, verdadeira santidade ao Senhor. É uma responsabilidade de
nós todos e não somente do pastor e dos presbíteros. É importante,
portanto, que Paulo trata da questão dirigindo-se a toda comunidade.
Talvez alguns estranhem este fato. Nas denominações batistas e
congregacionais as questões disciplinares são resolvidas pela
assembléia. Apesar de acharmos benefícios no sistema de governo
representativo, através de pastores e presbíteros, a interpretação desta
passagem só pode ser neste sentido: Paulo não está se referindo aos
pastores e presbíteros porque ele sabe que a responsabilidade de
vivermos uma vida santa na igreja, é de cada um dos seus membros.
Devemos não só zelar por nós mesmos mas também pelo nosso irmão
refletindo as palavras de Jesus: “Se o teu irmão pecar, vai repreendê-lo
entre ti e ele só, se ele não te ouvir, leva mais alguém, se não te
ouvir, comunica a liderança da igreja para que tomem as providências”.
Mas, antes de chegar a este ponto existe todo um processo intra
comunitário desenvolvido pelos membros, cada um participando e sendo
responsável para que a vida da igreja ande corretamente. Se não for
assim corremos o risco de sermos participantes dos pecados alheios e
incorrermos na culpa de cumplicidade.
Assim, o apóstolo Paulo, no capítulo 5, chama a igreja à ordem e nos
fala de forma apaixonada, fala com amor pela igreja; nos fala da
responsabilidade que todos temos de cuidar de nós mesmos, de vivermos
vidas santas e, de como comunidade, zelarmos para que o nome de Cristo
seja honrado e glorificado através da vida santa da comunidade dos
santos. Infelizmente nem sempre atentamos para esta maneira de Paulo
abordar o problema em vista do nosso individualismo. Mais freqüentemente
do que desejaríamos ouvimos falar de piedade em termos individuais, ou
seja, piedosa é a pessoa que se fecha no seu quarto para ler e orar
gastando tempo a sós com Deus. E santidade seria algo que se
desenvolveria individualmente. Quando falamos em santificação geralmente
temos a figura de uma pessoa em mente e nos esquecemos que Novo
Testamento geralmente estas coisas são contempladas à luz da comunidade.
Piedade é algo que eu exerço junto com o povo de Deus; culto não é algo
que eu presto individualmente a Deus, somente, mas algo que faço com
meus irmãos. Santidade é algo comunitário. Nós crentes caminhamos a vida
de santidade juntos. Perdemos de vista este aspecto corporativo da
Igreja apresentado no NT. É tão importante, salutar, equilibrado e
abençoador para cada um de nós a idéia de andarmos juntos, vivermos
juntos e nos santificarmos com a ajuda uns dos outros. É neste contexto
que o apóstolo trás estas palavras.
O Texto :
No versículo 1 e 2 encontramos o apóstolo Paulo apresentando o
assunto que vai falar. Ele coloca o problema com palavra muito claras. O
problema é duplo:
O Primeiro Aspecto do Problema
Primeiro, Paulo inicia dizendo que “Geralmente se ouve que há entre vós
imoralidade…” (v. 1) e depois especifica que imoralidade é esta. O
pecado é de incesto que está proibido pela Lei mosaica em Deuteronômio
2:30 e outras passagens do VT onde Deus revela Sua repulsa ao adultério e
muito menos que um homem faça isso com a mulher do seu pai. Era um caso
claro de transgressão da Lei de Deus. É importante notarmos que para o
apóstolo Paulo, a Lei de Deus sempre estava em vigor para o cristão.
Paulo caracteriza bem esta imoralidade, e, muito embora não faça uma
referência clara ao Antigo Testamento, há evidências na passagem, de
toda legislação do VT sobre a conduta moral e sexual do povo de Deus. É
bom enfatizar isso numa época em que as pessoas têm demonstrado descaso
para com a Lei de Deus e para com os padrões morais das Escrituras. O
apóstolo está muito à vontade expressando o ensino do VT para uma
comunidade de cristãos do NT e caracterizando a conduta daquele
indivíduo como sendo imoralidade à luz dos padrões Vetero
Testamentários. Isso nos trás a um ensino importante, o de ter em alto
apreço o Antigo Testamento que também é revelação de Deus para nós
cristãos, ainda hoje. Tudo que foi escrito, para nosso ensino foi
escrito, para que através das Escrituras e da paciência tenhamos
conforto e esperança.
Esta era a primeira parte do problema: uma relação incestuosa de um
homem que vivia com sua madrasta e que era do conhecimento de todos,
como se vê nas palavras de Paulo: “Geralmente se ouve que há entre vós
imoralidade…” (v. 1).
O Segundo Aspecto do Problema
A segunda parte do problema está no v.2: “E, contudo, andais vós ensoberbecidos, e não chegaste a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou?”. O que angustiava o apóstolo Paulo não era só o pecado em si, mas que a igreja, ao invés de “lamentar” o fato de ter um de seus membros vivendo uma relação pecaminosa e tomar a providência correta, que na ocasião seria tirar do meio da comunidade aquele indivíduo que não havia se arrependido (a julgar pelo que Paulo diz), ou que não queria corrigir-se. A atitude da igreja deveria ser excluir este membro contumaz. Paulo está angustiado pelo fato da igreja não tomar esta atitude para zelar pela vida e pela pureza da igreja, pelo nome de Cristo e pelo próprio pecador. Ao contrário, a igreja estava ensoberbecida, envaidecida possivelmente por causa dos dons espirituais. Os membros estavam orgulhosos de constituirem uma igreja “carismática”, ou quem sabe, uma igreja que amava a todos do modo que eram e de como agiam. Uma coisa é certa: Paulo entendia que a atitude da igreja não estava correta. Ao invés de lamentar e chorar pelo fato de um membro está sofrendo, e quando isso acontece, todos sofrem com ele, Paulo pensa na igreja em termos corporativos e vê uma comunidade negligente por não lamentar-se em vista do pecado que estava no seu meio. Ela assume uma postura oposta “festiva”, com um culto alegre, enquanto ninguém estava se preocupando com o problema. Paulo estava angustiado por ver um membro vivendo em pecado e por constatar uma igreja tolerante que convivia com o problema sem nenhuma dificuldade.
A segunda parte do problema está no v.2: “E, contudo, andais vós ensoberbecidos, e não chegaste a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou?”. O que angustiava o apóstolo Paulo não era só o pecado em si, mas que a igreja, ao invés de “lamentar” o fato de ter um de seus membros vivendo uma relação pecaminosa e tomar a providência correta, que na ocasião seria tirar do meio da comunidade aquele indivíduo que não havia se arrependido (a julgar pelo que Paulo diz), ou que não queria corrigir-se. A atitude da igreja deveria ser excluir este membro contumaz. Paulo está angustiado pelo fato da igreja não tomar esta atitude para zelar pela vida e pela pureza da igreja, pelo nome de Cristo e pelo próprio pecador. Ao contrário, a igreja estava ensoberbecida, envaidecida possivelmente por causa dos dons espirituais. Os membros estavam orgulhosos de constituirem uma igreja “carismática”, ou quem sabe, uma igreja que amava a todos do modo que eram e de como agiam. Uma coisa é certa: Paulo entendia que a atitude da igreja não estava correta. Ao invés de lamentar e chorar pelo fato de um membro está sofrendo, e quando isso acontece, todos sofrem com ele, Paulo pensa na igreja em termos corporativos e vê uma comunidade negligente por não lamentar-se em vista do pecado que estava no seu meio. Ela assume uma postura oposta “festiva”, com um culto alegre, enquanto ninguém estava se preocupando com o problema. Paulo estava angustiado por ver um membro vivendo em pecado e por constatar uma igreja tolerante que convivia com o problema sem nenhuma dificuldade.
Antes mesmo de dizer os princípios pelos quais a igreja deveria
expulsar o malfeitor que “tamanho ultraje praticou”, Paulo já vem com a
solução para o problema, até contrariando seu método habitual, usado na
primeira carta aos Coríntios. Paulo geralmente coloca o problema,
introduz uma série de princípios doutrinários e no final apresenta a
conclusão. Mas Paulo parece tão atribulado que apresenta o problema e
logo dá a solução; só posteriormente fala sobre as doutrinas que estão
por trás da questão. Isso, talvez pela angústia que lhe passava na alma
em vista do grande amor que tinha por aquela igreja. Do versículo 3 até o
5 Paulo diz o que vai fazer. Ele fala como apóstolo de Jesus: “…já
sentenciei…”. Ele usa das prerrogativas de apóstolo, a quem foi dada
autoridade para edificar a igreja, fazê-la andar e para trabalhar no seu
fundamento. Como tal, ele sentencia. Esta palavra “sentenciar” vem da
linguagem jurídica que significa o pronunciamento final de um processo
de julgamento. A igreja deveria ter feito isso e por que não fez, Paulo
toma para si as prerrogativas de juiz. Ele mesmo faz o julgamento,
sentencia o membro infrator dizendo: “…que o autor de tal infâmia seja,
em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de
Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a destruição da carne, a
fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor [Jesus]” (vs. 3-5).
Quando o apóstolo Paulo sentencia que aquele infrator seja entregue a
Satanás, ele o faz nos termos do ensino de Jesus. Paulo aqui está
ecoando o ensino de Cristo quando disse num contexto de disciplina:
“Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no
meio deles” (Mt 18:20). Jesus já havia dito dois versículos atrás (v.
18) que: “…tudo o que ligardes na terra, terá sido ligado no céu, e tudo
o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu”. Este é um
contexto de disciplina, quando Jesus estava respondendo a Pedro sobre o
que deveria ser feito se um irmão pecasse contra ele. Jesus diz que a
igreja reunida em espírito, com a presença do Senhor e em Seu nome
deveria exercer o “poder das chaves”; de admitir alguém no Reino de Deus
ou então excluir através da disciplina. Paulo está ecoando o ensino de
Jesus quando diz: [Eu, juntamente com vocês] “em nome do Senhor Jesus,
reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor…” (v.
4). Dessa forma Paulo sentencia o membro daquela igreja.
O que significa “entregar a Satanás”? Isto tem sido bastante debatido
e não vai fazer muita diferença na interpretação geral da passagem. Em
linhas gerais se acredita que Paulo estava dizendo o seguinte: Uma vez
que a pessoa não queira ouvir a voz da igreja, não aceita a repreensão
do Espírito Santo, e, sendo excluído da comunidade, será como uma ovelha
que foi colocada para fora do aprisco. Lá fora estão os lobos à espera.
Satanás vai cirandar, vai colocar sua mão em cima. O objetivo de Paulo
com isso não é destruir a pessoa como muitos pensam em relação ao ato
disciplinar. Em termos eclesiásticos alguns pensam de disciplina como
algo que trás simplesmente punição ou destruição do pecador. Mas não é
este o objetivo da disciplina. Apesar de todo rigor e firmeza de Paulo
em tratar o assunto, ele diz: “…a fim de que o espírito seja salvo” (v.
5). Este é o objetivo que Paulo revela na sua carta; o amor por aquele
pecador e seu desejo de recuperá-lo, mesmo que para isso medidas
drásticas tenham de ser tomadas. Paulo não fica vacilante. Se tem de ser
entregue a Satanás, que seja, para que o espírito seja salvo. Se for o
único meio, que assim seja excluído da igreja, ficando fora da proteção
do Senhor e ficando exposto aos ataques do diabo. Ataques que são
descritos no livro de Jó, quando este servo de Deus experimentou na
carne a atividade satânica como doenças, aflições, perdas dos bens, etc.
Em fim, toda sorte de aflições que com o decreto de Deus Satanás às
vezes pode infligir às pessoas para que o propósito de Deus seja feito.
No caso, para este membro da igreja, o propósito era trazê-lo de volta
ao seio da igreja através das aflições, angústias, dificuldades, e
tribulações que Deus permitiria (decreto permissivo) que Satanás
trouxesse a este membro em pecado. Ele deveria ser levado ao
arrependimento, cair em si e voltar ao convívio da igreja.
Não sabemos se a “estratégia” funcionou. Na Segunda carta que Paulo
escreve à Igreja de Corinto há uma menção de alguém que se arrependeu,
que mudou sua atitude. Paulo não diz quem foi esta pessoa. Mas Paulo
recomenda que a igreja o receba, que o aceite, que não prolongue
demasiadamente a disciplina para que ele não desfaleça. Alguns entendem
que seja exatamente este homem citado por Paulo no v. 5.1. Se for o
caso, a disciplina teria funcionado e o pecador voltado arrependido,
recuperado, restaurado, e a igreja o teria recebido com alegria. Paulo
passa para uma postura final e só depois explica o porque desta atitude.
Pode parecer aos ouvidos pós-modernos uma atitude muito radical. Mas
Paulo explica o porque de sua atitude.
As Razões de Paulo Para a Disciplina Rígida
1) Porque o pecado é como o fermento (v. 6). Se não cuidarmos ele se
alastra e contamina toda a massa: “Não sabeis que um pouco de fermento
leveda a massa toda?”. Paulo usa uma linguagem muito comum no VT. No VT
uma das coisas usadas para tipificar o pecado é o fermento. Tanto é que
na celebração da páscoa era proibido se comer pão com fermento (o pão
era “asmo” – sem fermento). O fermento era símbolo do pecado. Uma das
propriedades do fermento pelas quais ele tornou-se símbolo do pecado, é
sua capacidade de aumentar e dominar o ambiente onde se encontra. Se
colocado um pouco de fermento no pão que está sendo preparado logo
levedará toda a massa. O apóstolo diz que o pecado é exatamente assim.
Paulo pergunta se os crentes de Corinto não sabem disso: Que o pecado é
como o fermento, que leveda toda a massa? A idéia é que, se deixado sem
correção, no seio da igreja, sem que as devidas soluções sejam tomadas, o
pecado se propaga. O que pensar dos jovens da igreja de Corinto? O que
eles estavam aprendendo quando viam aquele homem vivendo com a madrasta e
ninguém dava importância? O que eles estavam aprendendo? Aprendiam, que
aquela atitude não faz diferença na vida cristã e que não importa nosso
comportamento sexual. Podemos continuar em pecado e como um cristão
normal. Era essa a mensagem que estava sendo passada para os membros da
igreja; que o pecado realmente não importava porque a igreja parecia
aceitar normalmente. Qual a mensagem que está sendo passada para os
jovens e novos convertidos? Que o pecado não afeta meu estado, o meu
relacionamento e minha comunhão com Deus e nem a vida da igreja. Ou
seja, o que é pregado no púlpito é totalmente desfeito por este tipo de
atitude. Nós podemos pregar santidade, e se temos de viver vidas santas
mas não acrescentarmos à Palavra pregada as medidas corretas para que
todos nós trilhemos este viver santo, a mensagem deixa de ter seu
efeito.
Quando Calvino começou sua obra em Genebra ele tinha a idéia de que
se houvesse apenas pregação fiel da Palavra de Deus e administração
correta dos sacramentos, a igreja seria edificada, os crentes ouviriam e
os problemas se resolveriam. Algum tempo depois, Calvino reconheceu que
era necessário e bíblico acrescentar um terceiro elemento: a disciplina
eclesiástica.
Há necessidade do exercício da disciplina eclesiástica feita em amor
para recuperação do pecador e para que se coloque em prática o que a
Palavra de Deus nos recomenda e exige. O mais importante é que Paulo não
está aqui falando para a liderança. Ele está falando para toda a
igreja. Não caiamos no erro de interpretar mal o apóstolo Paulo pois o
que ele fala é para todos nós; é responsabilidade de toda a igreja zelar
pela vida da comunidade seguindo os princípios bíblicos. Porque o
pecado é como o fermento. Se deixarmos ele contamina a massa toda. Que
mensagem estamos passando para o mundo? Qual a mensagem que a
“Tiazinha”, que se diz evangélica, passa para o mundo? Sua mensagem é
que não importa seu comportamento sexual, sua profissão corrupta. Assim,
se conclui que cabe tudo na igreja.
Estamos vivendo um momento de crise de referência na igreja
brasileira. Ou seja, precisamos de pessoas que sejam referenciais. A
pouco tempo a revista “Isto É” publicou um suplemento sobre os maiores
religiosos do século e citava Dom Evaristo Arnes, Alziro Zarur, Chico
Xavier, Madre Tereza, Leonardo Boff, Frei Beto, Marcelo Rossi, mas
nenhum evangélico. Pode ser apenas preconceito contra os evangélicos,
mas pensemos qual evangélico poderia estar nesta lista? Soubemos depois
que o candidato dos evangélicos seria o Bispo Macedo. Se há um momento
em que a igreja precisa fazer diferença no Brasil, é hoje. E temos de
começar nos lembrando de que o pecado é como o fermento. Ele destrói a
reputação da igreja, a sua credibilidade, seu ensino, e por isso temos
de tratá-lo com firmeza. Devemos começar conosco mesmo, sendo
implacáveis com nós mesmos e brandos com os outros, mas firmes no geral.
Tudo isso para evitar que o pecado se alastre. Este é o caminho. Não
estou me referindo a fazermos cruzadas de moralidade; não creio nisso.
Mas devemos pregar o ensino simples do evangelho e como lemos nos salmos
“que os que temem ao Senhor odeiem o pecado”, se afastem do pecado pois
este é o ensino de toda a Bíblia. O primeiro ensino é este: O pecado é
como o fermento e se nós não cuidarmos ele tomará conta de tudo
corrompendo as consciências.
2) O segundo argumento de Paulo está baseado na Páscoa (também vem do
Velho Testamento). Aqui no v. 7 Paulo se refere a Cristo como sendo
nossa Páscoa e que ele já foi imolado por nós. Paulo compara a vida da
igreja a uma grande Páscoa, a uma eterna festa. O nosso Cordeiro Pascal
já foi imolado e nós já nos alimentamos dele e se vivemos em uma eterna
Páscoa, não deve haver fermento. Tem de ser lançado fora os fermentos, a
massa velha. Por isso Paulo diz: “Lançai fora o velho fermento, para
que sejais nova massa…” (v.7). A Igreja é a comunidade Pascal liderada,
salva e resgatada por aquele que é a nossa Páscoa. Na festa da Páscoa
não podia se ter pão com fermento. Essa é a figura que Paulo usa. Se há
pão fermentado já não é mais Páscoa. No v. 8 Paulo diz da vida cristã
que “celebremos a festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da
maldade e da malícia; e, sim, com os asmos da sinceridade e da
verdade”. É só quando a sinceridade e a verdade prevalecem que nós
verdadeiramente celebramos. Somos uma comunidade que celebra, que vive
na alegria, no gozo da santidade do nosso Cordeiro.
É claro que Paulo não está pregando o perfeccionismo. Mas alguns
podem ter esta idéia; Paulo não está pedindo que a igreja seja perfeita,
mas sim que a igreja de Corinto tome as atitudes certas quando o pecado
aparecer. O pecado vai aparecer, é verdade, e pode ser em minha vida e
na sua, mas que a comunidade ajude o pecador com interesse de
auxiliá-lo. Não devemos ficar falando mal e criticando mas que tomemos
as providências bíblicas para ajudar aquele que caiu vítima do pecado.
Celebremos a festa com os “asmos” da sinceridade e da verdade.
3) Vemos um outro princípio nos versos 9-12. Há um momento para uma
separação santa. Infelizmente há momentos em que somente uma separação
resolve. A separação da comunidade colocada aqui por Paulo é daquele
membro impenitente que não deseja arrepender-se. Parece que Paulo coloca
este ponto em destaque (ele gasta vários versículos nisso)
provavelmente porque ele sente que foi mal compreendido. Paulo já havia
escrito uma primeira carta aos coríntios. Essa primeira carta que
conhecemos é, na verdade, uma segunda carta, porque Paulo já havia
escrito uma carta antes que foi perdida. Paulo faz menção desta primeira
carta perdida no v. 9. Nesta primeiríssima carta ele já havia falado da
necessidade de separação, de não haver associação entre o cristão e a
impureza. “Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os
impuros”.
Aparentemente os coríntios haviam entendido que Paulo estava falando
que os cristãos não deveriam ter qualquer contato com incrédulos. Por
isso os coríntios concluíram que não haveria problema de ter associação
com aquele irmão, mesmo que em gravíssimo pecado, visto que era “irmão”.
Eles haviam pensado da primeira carta de Paulo que não deveriam se
associar apenas com quem não fosse cristão. Paulo, então, corrige este
equívoco e diz: “Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os
impuros; refiro-me com isto não propriamente aos impuros deste mundo,
ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso teríeis
de sair do mundo”. Paulo, aqui, está dizendo que não estava dizendo que
não se associassem, ou mantivessem contato com este tipo de gente, com
os pecadores deste mundo, porque, se assim fosse, teriam de sair do
mundo. Paulo nunca sugeriu um gueto ou mosteiro, nem ao menos estava
sugerindo que não convivessem com os não cristãos. O que Paulo diz é:
“Mas agora vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se
irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra ou maldizente, ou beberrão,
ou roubador; com este tal nem ainda comais” (v.10). O que Paulo está
dizendo é que não devemos nos associar com aquele que “dizendo-se
irmão”, se fazendo passar por cristão, no meio da comunidade se
comportem como não cristãos. A estes nem devemos convidar para uma
refeição em nossas casas. Em outras palavras, há um momento em que é
necessária uma separação clara e firme.
Muitos podem estar pensando nas palavras de Jesus quando disse: “Não
julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7:1). É claro que Paulo e
Jesus não estão em contradição. Quando Jesus disse estas palavras ele o
fez no contexto do julgamento indevido. Ou seja, alguém julgar o
comportamento de uma pessoa e não julgar-se a si mesmo. Lembremo-nos que
nesta mesma passagem Jesus diz: “Por que vês tu o argueiro no olho de
teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio” (Mt 7.3).
O que Jesus proibiu foi o julgamento desproporcional, sendo pesado para
com os outros e não para consigo mesmo. Isto não é correto! Mas quando
Jesus fala estas palavras condenando o julgamento precipitado, no
versículo 6 Ele diz: “Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante
os porcos as vossas pérolas…” (Mt 7:6). Para eu cumprir este mandamento
eu tenho de saber quem é “cão” e quem é “porco”. Ou seja, tenho de
exercer julgamento. É claro que Jesus não está proibindo que nós, pelas
evidências, pelo comportamento, por aquilo que está evidente e claro,
cheguemos a uma conclusão de que uma pessoa não está se comportando como
um cristão deve se comportar. Assim sendo podemos tomar as devidas
providências.
Paulo termina este terceiro princípio dizendo: “Pois com que direito
haveria eu de julgar os de fora?” (5:12a). Paulo está dizendo que não
vai julgar os de fora que não são cristãos e que vivem em outro
contexto. E então pergunta: “Não julgais vós os de dentro?” (v.12b).
Paulo aqui deixa muito claro que julgar os “de dentro” é competência da
igreja. Não vamos julgar os de fora, pois Deus os julgará. É isso que
Paulo diz no versículo 13: “Os de fora, porém, Deus os julgará” (v.13a).
Mas os de dentro sim; a comunidade julga os de dentro e toma as
providências para recuperar o faltoso, o extraviado, para trazer de
volta o que se desviou. E, se necessário for, para isso, a santa
separação, que haja separação.
Paulo conclui no v.13 dizendo: “Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor”.
Conclusão
Estamos vivendo uma época em que se Paulo viesse expor esta mensagem, desta forma, não seria bem recebido.
Hoje se diz que a verdade é relativa e que cada pessoa tem sua
própria verdade. Estamos vivendo a relativização dos valores morais. Se
diz que a vida de cada um é governada por aquilo que a pessoa sente que é
melhor. Se a pessoa está se sentindo bem em determinado lugar, se algo
está fazendo-lhe bem, então, não importa outras questões, outros
critérios. O critério que é usado é sentir-se bem e passa a ser o
principal para governar a conduta das pessoas. O que valida uma situação
ou uma conduta é eu estar ou não me sentindo bem no que estou fazendo.
Esses conceitos têm predominado em nossa sociedade e em muitas
igrejas. A relativização na mídia, nas músicas, nos escritos modernos,
nas universidades, nos debates da ética e da moralidade. Os formadores
de opinião pública nacional estão totalmente envolvidos na pós
modernidade que resume tudo que foi dito. Tudo isso acaba minando a vida
da igreja, a literatura, os seminários, os congressos. Às vezes, de
forma sutil, nos tornamos avessos aquilo que venha nos contrariar, que
venha nos obrigar a dizer: “Isso está errado!”.
Mas temos de fazer a escolha. É um momento sério de decisão da
Igreja, se vamos viver à luz da Palavra de Deus e de seus valores
absolutos ou se vamos nos deixar levar pelos “ventos” da época.
A Palavra de Deus nos chama a viver vidas santas e retas. Nos chama a
aborrecer o pecado e se necessário, tomar as devidas providências para
que ele não tenha livre curso em nosso meio, nas nossas vidas, nas
nossas famílias. Tomar a providência necessária em amor, em espírito de
brandura, olhando por nós mesmos para que não sejamos também levados
pelo pecado mas ajudando-nos mutuamente, levando as cargas uns dos
outros para que a comunidade toda viva vida de santidade e de alegria. O
problema não é o pecado somente, mas o pecado não resolvido. Para o
pecado há perdão, resgate, redenção e libertação. O problema não é só o
pecado mas o pecado não confessado, não reconhecido e não tratado. É
contra isso que Paulo fala. Que Deus nos ajude.
Lembremo-nos que esta mensagem é para a igreja e não para os líderes.
Sempre fico admirado com Paulo pelo fato de que quando fala de
disciplina eclesiástica ele não se dirige aos pastores e aos presbíteros
apenas mas fala para à comunidade toda. É nossa responsabilidade de
orarmos e vivermos vidas santas ajudando-nos uns aos outros a nos livrar
do inimigo das nossas almas. Esse é o pior inimigo: o pecado não
tratado.
Que Deus nos dê graça e misericórdia para vivermos segundo o padrão da Palavra de Deus.
Por: Rev. Augustus Nicodemus Lopes